sexta-feira, 8 de outubro de 2010

“Não tenho moral para crucificar a pirataria porque faço uso dela”, diz Rita Lee.

No palco, Rita Lee não tem pudores para soltar a voz. Canta, fala, brinca, encena. Mas fora dele, a cantora auto-intitulada avó do rock brasileiro não é muito de falar. Prefere escrever. Sua movimentada página no Twitter comprova: em menos de três meses foram quase 2.500 textos escritos em 140 caracteres. Formato semelhante ao que ela adota há alguns anos em suas entrevistas, sempre por e-mail, com respostas curtas. E não adianta insistir. Foi assim que Rita Lee falou –um pouco– ao UOL Música sobre o show que ela faz neste sábado (2) em São Paulo, no Palácio de Convenções do Anhembi.



A apresentação, que faz parte dos festejos de 40 anos do Anhembi, é mais um desdobramento da turnê “Etc”, que ela começou em maio deste ano. Com os companheiros de família, o marido Roberto de Carvallho e o filho Beto Lee, ambos guitarristas, Rita vai dividir o palco também com Brenno di Napoli (baixo), Edu Salvitti (bateria), Debora Reis e Rita Kfouri (backing vocals) e Danilo Santana (teclados) para trazer de volta sucessos como “Agora Só Falta Você”, “Insônia”, “Ovelha Negra” e a homenagem a Michael Jackson.



O repertório –apesar de sofrer modificações conforme o humor da cantora– não tem músicas novas. O que se ouve são alguns dos sucessos que impulsionaram a venda de mais de 55 milhões de discos em sua carreira. Sem contar os CDs e downloads piratas. Mas com isso ela não se importa. “Não tenho moral para crucificar a pirataria porque também faço uso dela”, conta.



Aos 62 anos –que ela frequentemente transforma em 65 porque “você fala que tem mais do que sua idade real e as pessoas acham que você está bem”–, a bem humorada Rita Lee quer evitar o desgaste da repetição. E isso inclui a relação com jornalistas e fãs. Para simplificar, ela mesma escreveu um texto respondendo as perguntas mais óbvias que rondam sua carreira. “Afinal, economizar energia é preciso”, ela defende. Por email, ela falou –e quase não disse– sobre um novo trabalho de inéditas, a influência de Michael Jackson, Twitter e direito autorais.



UOL Música – No texto distribuído a imprensa você adianta uma série de respostas para perguntas recorrentes de jornalistas e fãs, numa forma de “economizar energia”. Em que você gasta essa energia economizada?
Rita Lee – Mariana, querida… gasto no ócio criativo.



UOL Música – Você diz que os shows mudam conforme seu humor e que não há um roteiro fixo. Como anda seu humor ultimamente?
Rita Lee – O de sempre, altos e baixos, como tudo na vida.



UOL Música – No show “Etc” há uma homenagem a Michael Jackson. O que o rei do pop representa para você e o quanto dele há em Rita Lee?
Rita Lee – Michael foi o maior e mais completo entertainer que já existiu.



UOL Música – Você adianta que há músicas inéditas prontas. Você tem mostrado em seus shows? Qual das músicas novas é sua preferida e como você a descreve?
Rita Lee – Não toco músicas novas em shows. Temos gravado várias demos de inéditas, quando a preguiça permitir a gente faz pra valer.



UOL Música – Você trabalha com música há 45 anos. O que ainda gostaria de fazer em sua carreira?
Rita Lee – Não tenho grandes desafios, não tenho nada a provar para ninguém, meu barquinho segue calmo.



UOL Música – Entre tantos figurinos, ao vivo você canta, encena e se joga no teatro. O que significa para você estar num palco?
Rita Lee – A melhor terapia de todas. É uma outra entidade, muito mais segura do que eu.



UOL Música – Você figura entre os maiores arrecadadores de direitos autorais do Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), que está com uma revisão da lei em curso. Você apoia as mudanças? Acha que deveria existir um órgão oficial para monitorar o Ecad?
Rita Lee – Eu? O que sei é que os autores brasileiros ganham mal pra caramba, eu me sustento mesmo com shows. Aqui no Brasil o dinheiro dos outros sempre vai parar em cuecas e meias de alguém.



UOL Música – E sobre a crise da indústria fonográfica, como você vê as questões da música digital e da pirataria?
Rita Lee – As gravadoras majors estão na ultima gargalhada. Bem feito, ninguém mandou só investirem em clonados. Não tenho moral para crucificar a pirataria porque também faço uso dela.



UOL Música – Você já entrou, saiu e voltou ao Twitter (@LitaRee_real). Você chegou a receber alguma ameaça real? E além de João Gilberto ter mandado e sua terapeuta ter aconselhado, conforme você escreveu, o que mais a fez voltar ao microblog?
Rita Lee – Carinho e divertimento.



Leia abaixo o texto de divulgação escrito por Rita Lee para “simplificar e evitar a preguiça e o desgaste da repetição”:



“Há 45 anos trabalho com música; participei de algumas bandas; tenho trocentas composições; já fiz 1 bilhão setecentos e dezenove milhões e setenta mil shows; entre outros figurinos já me vesti de noiva, boba da corte, presidiária e Nossa Senhora Aparecida; há 33 anos sou casada com Roberto de Carvalho meu maior parceiro musical e pai dos meus 3 filhos.



Sim, o prazer de estar no palco depois de tanto tempo permanece tão intacto quanto a máscara dourada de Tutancâmon. Não, o repertório dos meus shows nunca é fixo, me conheço o suficiente para saber que tiro e ponho música conforme dá na telha. Material não falta. Nessa turnê tenho minhas favoritas: “Vírus do Amor”, “Banho de Espuma”, “Chega Mais”, “Atlântida”, “Orra Meu”, “Insônia”.



Sim, tocar ao lado de marido e filho é legal e não, não rola briga de egos. Sim, temos várias composições inéditas, mas ainda vamos garimpar para então começar a gravar. Não há data para lançamento, nem gravadora, nem pressão, nem ansiedade. Não, no momento não penso em projetos alternativos, a agenda de shows me toma todo o tempo e saco. Apesar de que um projeto engraçado fora da música sempre me conquista.



Não, não tenho candidato para as próximas eleições, aliás, nem vou sair de casa dessa vez. Enquanto o voto for obrigatório nada vai mudar. Falar sobre a turnê “ETC…” é chover no molhado, sou a miss simpatia que não tem muita idéia do que pode rolar na hora. Vá lá me ver e a gente vai se falando. Se não der talvez eu tenha outros 45 anos de estrada pela frente para continuar fazendo tudo diferentemente igual apesar, contudo, todavia, mas, porém, etc…



Bjs e abçs.



Rita Lee”

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