No panorama pós-tropicalista dos anos 70, Agora Só Falta Você e Ovelha Negra foram os primeiros hits a dar indícios de que Rita Lee seria mais do que uma musa cult da MPB. Gravadas em 1975, três anos depois de seu último disco como co-líder dos Mutantes, as faixas foram os primeiros grandes testemunhos do pop acessível e sofisticado que caracterizaria os melhores momentos de seu cancioneiro solo. A dobradinha está entre as pérolas de Fruto Proibido, feito em parceira com a banda Tutti Frutti e relançado esta semana pela Discoteca Estadão por R$ 14,90.
Na época, o disco vendeu mais de 200 mil cópias e transformou a cantora em rainha do rock nacional. Surpreendentemente, no entanto, o foco era fazer um disco de rock mais profissional que a média, mas não comercial- embora Rita achasse que discos eram “feitos para vender” e que chegar a um público maior seria “elevar o nível de sua música”. “A gente fazia o que queria. Não havia a preocupação de tocar no rádio, fazer trilha de novela. Por isso a credibilidade do disco até hoje”, conta Luiz Carlini, guitarrista do Tutti Frutti, que gravou o antológico solo do final de Ovelha Negra e divide, com Rita, os créditos de Agora Só Falta Você.
Foi um marco. Considerado por muitos a obra-prima de Rita (está em 16.° lugar no ranking de melhores discos brasileiros de todos os tempos feito pela revista Rolling Stone), Fruto Proibido é o elo entre o experimentalismo tropicalista de Rita e o pop enxuto das parcerias com Roberto de Carvalho no fim da década. “Na época, Rita estava saindo daquele som laboratorial dos Mutantes e, quando nos encontrou, partimos para uma coisa bem rock and roll”, conta o guitarrista, que cresceu na Pompeia com os roqueiros paulistas e foi até expulso do colégio junto com Sérgio Dias. “O disco estourou logo e tocava no rádio o dia inteiro. A gente fez turnê pelo Brasil e bateu o recorde de público em vários ginásios. Acho que o recorde do Gigantinho, em Porto Alegre, até hoje é nosso”, completa.
Em parceria com Rita, Carlini fez os arranjos de Fruto Proibido e compôs metade de Agora Só Falta Você. Mas sua maior contribuição ao disco e, consequentemente, ao rock nacional, foi o solo de Ovelha Negra, que encerra o disco. “Eu sonhei com o solo e acordei assobiando. Fui para o estúdio (o disco já estava sendo mixado) e pedi para gravá-lo. Os técnicos disseram “fica quieto aí cabeludo, você não vai fazer mais nada aqui”. Mas eu fui tão insistente que deixaram. Quando terminei, o Andy Mills (produtor do Alice Cooper) me chamou para a sala de mixagem e disse: “vai embora daqui. Eu gravei, está pronto e você nunca mais vai mexer nisso”.” O solo, feito de um riff simples que se repete até o fim da faixa, virou referência para os guitarristas brasileiros. “Fiz 1 bilhão de solos depois, mas nenhum foi tão famoso quanto esse”, conta Carlini.
Em termos visuais, o disco levou a sério a proposta profissionalizante. Andy Mills apostou em um espetáculo colorido com Rita Lee de luvas de cetim, corpete e cinta-liga e o alto e bom som mixado por um sistema “surround”, uma grande novidade para a época.
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