sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Público frio no tributo ao rock de uma rainha

Rita Lee foi homenageada em SP por cantores de diferentes estilos e gerações


Aos 61 anos, Rita Lee recebeu na quarta-feira, em São Paulo, mais uma homenagem por sua contribuição para a música nacional. Iniciativa louvável, já que tributos prestados a artistas ainda em vida sempre valem mais do que qualquer nome de placa de rua. O show fez parte da quarta edição da série Accenture Performances, que já homenageou Marcos Valle, Tim Maia e Ivan Lins, e agora reuniu no palco Lenine, Ed Motta, Paula Toller, Marina de la Riva e Silvia Machete, acompanhados por uma grande banda, com destaque para os guitarristas Davi Moraes e Pedro Baby, o baterista Marcelo Costa, o baixista Dadi, mais percussão, teclado e dois quartetos, um de cordas e outro de sopros.

Abrindo a noite, Silvia Machete entrou em cena com um vestido brilhante e seu característico adorno de pomba sobre a cabeça. Depois de cantar Sucesso Aqui Vou Eu, tentando mostrar segurança, a cantora se apresentou ao público, que não a conhecia. "Boa noite, meu nome é Silvia Machete, que rima com chacrete, com patinete e com o que a imaginação dos homens permitir." Depois, com a voz mais firme, ela deu conta de Banho de Espuma e Chega Mais. Pelo menos poupou o público dos bambolês dispensáveis que costumam acompanhá-la em seus performáticos shows-solo. Na plateia, comentários de que "aquela figura tinha toda pinta de crooner".

Logo depois, foi a vez de Marina de la Riva cantar mais três sucessos. Pelas características da cantora e pela hereditariedade - ela é filha de pai cubano - coube a Marina interpretar canções de Rita com características latinas. Gritando no microfone, sem controle de dinâmica e sem a menor presença ou domínio de palco, a cantora conseguiu ofuscar a beleza das dançantes Bandido Corazón e Luz del Fuego. Salvou-se apenas Menino Bonito, graças ao belo arranjo de cordas.

Entrou em cena, então, Paula Toller, exibindo não apenas a bela forma física, como também intimidade com o controle da voz. Depois de cantar o hit Mania de Você, novamente com destaque para os violinos e violoncelos, a cantora, que já havia participado do Acústico MTV, de Rita Lee, em 1998, dividiu com o público a emoção de fazer parte da homenagem. "É engraçado, eu fui oficialmente adotada como filha da Rita Lee. Sempre tive o sonho de cantar as músicas dela assim e estou realizando com vocês hoje." Paula ainda arrancou suspiros da plateia com Cartão Postal, gravada originalmente em 1975, no álbum Fruto Proibido. Depois da clássica Baila Comigo, ainda tentou convocar o público frio e monótono a se animar. "Vocês sabem cantar essas músicas, não? Vocês não estão cantando..." O efeito foi instantâneo, mas de pouca duração. Após mais uma música com aplausos calorosos, os espectadores voltaram à inércia.

Quando os homens entraram em cena, o show esquentou. Ed Motta provou exatamente o contrário do que dizia o cartaz de anúncio do espetáculo: "Rita Lee como você nunca ouviu." Ele interpretou três canções que já fizeram muito sucesso em sua própria voz. Duas parcerias suas com Rita, Fora da Lei - com um improviso quente de teclado - e Colombina, além da bela Caso Sério, parceria de Rita e Roberto de Carvalho, gravada em 1979. Depois da agitada Colombina, Ed Motta foi outro que também tentou reanimar o público. "Está faltando aquela levantadinha de vocês pra dar aquela sensação de sucesso, gente, pelo amor de Deus", clamou o cantor, fazendo o papel que a música por si só já deveria fazer.

O último convidado foi Lenine, o mais desenvolto no palco, que, com seu estilo característico de dividir as frases, iniciou sua bonita participação com Ando Meio Desligado. Em seguida, mesmo lendo a letra de Mutante, Lenine se atrapalhou, errando também por duas vezes em suas entradas após os solos da banda. Pequenos deslizes à parte, ele fez interpretações emocionantes de Ovelha Negra e Agora Só Falta Você.

No fim da apresentação, todos os convidados fizeram a festa no palco, com Lança Perfume e, novamente, Chega Mais, sem clamores do público por um bis. Uma obra com toda a envergadura e influência, como a de Rita Lee, merecia mais.

AE

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