Rita Lee Jones, neta de americanos que vieram para o Brasil por não concordarem com os resultados da Guerra da Secessão, foi mesmo, como ela canta, a "ovelha negra" da família. Desde cedo fugia de casa
para cantar num grupo formado por amigas, sem que seus pais soubessem. A coisa estourou quando Rita teve um ataque de apendicite num show - e chamaram seu pai.
Prometeu ser boa menina e estudar muito - mas em troca pediu uma bateria, que acabou ganhando. Depois disso conheceu dois irmãos, Sérgio e Arnaldo, e com mais três amigos montaram um grupo que acabou na primeira apresentação. Uniram-se os três e fizeram o "Mutantes" - foi quando Gil os carregou para a Tropicália. Houve protestos de todos os músicos do festival da Record, mas os Mutantes arrasaram com modos roupas e deboche acompanhando Gil em Domingo no Parque.
Por excesso de machismo, o grupo rompeu-se - Arnaldo e Sérgio culpavam Rita Lee por todos os insucessos - culpavam por ser mulher, e por mulher não ter nascido para o rock.
Rita deu a volta e retornou com o Tutti Frutti - que acabou repetindo o machismo dos Mutantes. Deprimida, tentou o suicídio: "Eu estava com muita pena de mim. Uma noite cheguei em casa e, de maneira hollywoodiana, à la Marilyn Monroe, engoli uma porção de comprimidos. Fui apagando. Um amigo arrombou a porta a tempo de me levar para o hospital. Que canastrice, uma grande babaquice. Aí eu parei com essa história de morrer. Hoje quero ser eterna, de preferência. Penso na morte de modo diferente. Acho que ela deve ser um grande orgasmo".
O fato é que não faltaram histórias e loucuras na vida dessa capricorniana futurista, irresistível e bem-humorada. Para Rita Lee, nossa primeira-dama/tia/mãe - e agora avó - do rock, a vida é uma grande brincadeira. É a nossa maior representante do rock, é a maior tradição de São Paulo.
Carô Murgel
Foto: Mario Luis Thompson
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