A paulistana Rita Lee, de 61 anos, não quer saber dessa história de ser lenda do rock. “Mito? Não tenho distanciamento de mim mesma para saber que papel ocupo nesse teatro’’, diz. No DVD que relembra seus 40 anos de carreira, Multishow ao Vivo – Rita Lee (registro da turnê Pic Nic), a cantora demonstra a mesma atitude jovial que exibia quando apareceu pela primeira vez aos olhos do grande público, no 3º Festival da MPB da Record, em 1967, evento que também consagrou Gilberto Gil.
Rita Lee retorna a Curitiba no próximo sábado (20), trazendo o show referente ao especial. Na nova produção, também lançada em formato CD, Rita surge solta e próxima do público. Há momentos engraçados, como quando ela coloca um chapéu de cangaceiro, assume o triângulo e desconstrói a música dos Beatles “I Want to Hold Your Hand’’ na versão “O Bode e a Cabra’’ – devidamente autorizada por Yoko Ono. E também emocionantes, como na mistura de “Baby’’ com “Domingo no Parque’’, “Panis et Circenses’’, “Bat Macumba’’ e “Alegria, Alegria’’, no arranjo que reverencia a Tropicália, movimento que a lançou.
Questionada sobre a razão de sua longevidade artística e de seus amigos Gil e Caetano Veloso, Rita brinca, com um fundo de verdade. “Será que é porque somos geniais?’’, devolve, gargalhando. E abre guerra à nostalgia: “Não sou saudosista. Odeio revivals. Não acho que nada do meu tempo era melhor’’.
A direção do DVD é de Rodrigo Carelli – responsável pelo último DVD de Ivete Sangalo e diretor do reality show rural A Fazenda (Record). “Ele é um amor de pessoa, aberto, tem bom gosto, e sua equipe foi superlegal’’, elogia. Uma parceria de sucesso também de acordo com as palavras de Carelli. “Foi maravilhoso, é muito gratificante trabalhar com um artista de quem se é fã. A Rita é muito doce, amável e fala o que pensa. As coisas são facilmente decididas com ela. É uma alegria saber que uma pessoa dessa envergadura seja tão bacana”, revela o diretor, não poupando elogios a Roberto de Carvalho, responsável pela direção geral e musical do show, ao lado da esposa Rita.
Inéditas
Se o trabalho atual, mesmo sob roupagem contemporânea, olha para o passado, o próximo será um disco de novidades. “Temos várias inéditas ainda em demo. Resta escolher as melhores e entrar no estúdio. Uma delas é ‘O Povo Brasileiro’, que faz um deboche e uma declaração de amor à loucura da nossa gente’’, adianta. “A inspiração não avisa quando aparece, só tenho de estar pronta para ouvir o que o santo diz quando baixa.’’
Roqueira convicta, alfineta o cenário atual. “Cada geração tem o rock que merece’’, dizendo gostar da banda Ruanitas – primeiro grupo feminino a participar de um festival de bandas cover dos Beatles em Liverpool (Inglaterra) e sucesso na trilha sonora da novela Malhação em 2008, com a faixa “Vaza”. E lembra do roubo de seus instrumentos, em 2008, na BR116, quando seu caminhão voltava a São Paulo após um show em Curitiba . “Na hora em que soube, foi como um estupro. No dia seguinte, fiquei deprimida e no terceiro dia, ressuscitei dos mortos, tive vontade de pegar a metralhadora. No quarto, meditei e entendi que nesta vida a gente deve se desapegar das coisas.’’
Rita, que já botou fogo na escola onde estudou – ou melhor, ela corrige: “Não exagere... Botei fogo no teatro da escola’’ – , diz que não é mais a ovelha negra da família. Mas explica: “Minha família antiga já não existe mais. Minha nova família é toda feita de ovelhas negras’’.
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