Rita Lee: 'Multishow ao vivo' é museu sem novidades
Ricardo Schott, Jornal do Brasil
RIO - Fã que é fã gosta mesmo é de discos ao vivo. Ainda mais na era do DVD, em que todo mundo pode levar o souvenir do show para casa – bem diferente da época do VHS, em que esse tipo de mercado não vingava. Aparentemente, só críticos (que, veja só, também são fãs) é que gostam de cobrar “cadê o disco de inéditas?” de artistas. Supõe-se que o fato de Rita estar investindo pela segunda vez, num curto espaço de tempo, em regravar hits (MTV ao vivo saiu em 2004, e logo depois Rita Lee Jones, gravado em 1980, e a série de DVDs Biograffiti), passe despercebido a muita gente.
Com Multishow ao vivo, gravado no Vivo Rio no dia 31 de janeiro, em mãos, até que dá para esquecer estes detalhes. Difícil não se contagiar com a coleção de clássicos que Rita selecionou para o DVD e o CD, apesar de ser difícil achar grandes novidades nos discos ao vivo da cantora.
'Vítima' deprê e roqueira
Os clássicos, infalíveis, são pinçados, quase todos, da fase pós-anos 80 de Rita – a mais popular entre fãs e não-fãs. A exceção é a indefectível Ovelha negra, de 1975, que nunca deixou de estar nos shows da roqueira, e que é decorada com discursos pela volta do Rio à condição de capital do país. A sequência abre com a folhetinesca Flagra e prossegue com Saúde, Mutante (em versão mais deprê e roqueira que a original e decorada com o verso-coda “eu sou mutante!”), Cor de rosa choque (que aparece num pot-pourri feminista com Todas as mulheres do mundo, que no show foi apresentada tendo como fundo, no cenário, fotos da homenageada Leila Diniz) e Lança-perfume, unida à Chiquita Bacana.
De lado-B aqui só Bwana, sucesso de 1987 que andava sumido dos shows porque Rita (é o que ela diz no palco) cismava com a melodia, que lhe lembrava algo de “evangélico”. E que volta com o trocadilho “Obama, Obama” na letra. Uma novidade para quem vai pouco aos shows de Rita é que boa parte das músicas dessa época, registradas originalmente com arranjos próximos da produção em série, reaparece com uma cara mais roqueira e pesada – que perde apenas pelo pé no brega dado por alguns backing vocals.
Tem ainda a boa versão de Vítima, que aparece apenas no DVD e valoriza o lado entertainer de Rita, vestida como agente secreto, na penumbra. É essa faceta que domina o DVD, com a cantora ao lado da dupla de backings (Rita Kfouri e Débora Reis) cantando Vingativa, das Frenéticas, e, finalmente, gravando (“após oito anos, a Yokokokô liberou”, diz) O bode e a cabra, paródia forrozeira, com direito a triângulo e chapéu de cangaceiro, de I want to hold your hand, dos Beatles, por Renato Barros. Baby, de Caetano Veloso, merecia uma versão alegre, como a do baiano com os Mutantes em 1968.
Ainda tem as inéditas, que marcam o ressurgimento de um lado menos romântico, mais gozador, na obra de Rita – na roqueira Se manca e na meio latina, meio beatle Insônia (que tem uma das melhores letras já lançadas por ela nos últimos anos). Já Tão, uma das duas músicas lançadas como work in progress em Biograffiti e apresentada em shows recentes, ganhou arranjo (razoável) próximo do punk. Independentemente de qualquer coisa, Multishow ao vivo vale como um bom greatest hits, ou como recordação do show.
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